Tarifaço na vida real: ameaças de Trump já afetam negócios de exportadores, das carnes aos aviões
17/07/2025 05:13:20
Por redação com O Globo
Enquanto o governo se reúne com empresas e o agronegócio para discutir o impacto da taxação de 50% pelos Estados Unidos nas exportações brasileiras, o setor produtivo já sente o prejuízo decorrente da decisão de Donald Trump, com danos chegando à economia real. Os frigoríficos estão paralisando a produção de carne para os EUA, e já há US$ 160 milhões em volume no porto ou sendo transportadas para o país.
No setor de frutas, a apreensão está concentrada na produção de manga, que pode ter embarques suspensos para o mercado americano se a alíquota for implementada. Já a Embraer calcula que a taxação terá impacto comparável ao da pandemia para a companhia, quando a receita da fabricante de aeronaves encolheu em 30% e 20% da força de trabalho foi reduzida.
O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, disse em entrevista on-line após a reunião com os ministros que considera a tarifa de 50% como “embargo”, sobretudo para aviões, produto de alto valor agregado:
"Se essa tarifa for para a frente estimamos um impacto para a empresa semelhante ao da Covid."
Impacto de R$ 20 bi
Ele projeta cancelamento de encomendas e desistência de novos negócios de clientes — o que ainda não ocorreu, sem que seja possível remanejar pedidos para outros países.
Os EUA são o mais importante mercado da Embraer, representando 45% do mercado de jatos comerciais e 70% do de jatos executivos. A empresa mantém uma unidade com 3 mil funcionários no país, além de US$ 3 bilhões em ativos, explicou o executivo.
Se a tarifa de 50% vingar, disse ele, até 2030 a Embraer terá um custo adicional de R$ 20 bilhões, considerando as encomendas feitas, já que o custo de produção subirá em R$ 50 milhões por unidade, reduzindo a competitividade das aeronaves no mercado americano.
O cenário de alíquota zero é fundamental para a Embraer, disse, enfatizando que a questão econômica se sobrepõe à política neste momento:
"Acreditamos que a alíquota pode ser revertida com negociação. Com uma alíquota de 50%, as vendas do jato E 1, por exemplo, ficam inviabilizadas."
Ontem, após participar da reunião liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e outros ministros, Roberto Pedrosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), disse que os frigoríficos estão parando as vendas para os EUA:
"Nossos frigoríficos já estão parando de produzir carne destinada aos EUA, haja vista a incerteza. Com essa taxação, se torna inviável a exportação de carne bovina aos EUA, nosso segundo maior comprador. Temos 30 mil toneladas produzidas, no porto ou nas águas, que é preocupação nossa de como isso se dará a partir de agosto. É em torno de US$ 160 milhões. É preocupação adicional em uma cadeia que gera 7 milhões de empregos."
Perguntado se o Big Mac ficaria mais caro com a taxação de produtos brasileiros, Pedrosa respondeu:
"Nos EUA, com certeza."
Os frigoríficos de Mato Grosso do Sul e de outras partes do Brasil — incluindo os de grandes empresas — suspenderam o abate de bovinos que seriam enviados aos EUA. De acordo com Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, o volume deve ser redirecionado ao mercado interno e a outros países, levando à queda de preço ao consumidor e aos produtores.
"Não vamos conseguir manter as exportações aos EUA com esse valor de taxa. Não vamos manter o processo de exportação. A cadeia produtiva já sente os impactos, e os frigoríficos já começaram a alterar suas escalas de produção, com a suspensão do abate para o mercado americano", afirmou Verruck.
Exportações ‘inviáveis’
Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul, diz que o pedido para suspender o abate partiu dos compradores americanos, após o anúncio de Trump.
Verruck destacou que a exportação de carne bovina opera por sistema de cota nos EUA. Acima de 65 mil toneladas há taxação de 26,4%. Com mais 50%, as exportações se tornam inviáveis, diz.
No setor de frutas, o foco está na safra de manga, pronta para iniciar embarques para o país em agosto:
"Já fechamos todos os contratos, frete, contêineres, embalagens, importadores, distribuidores. São em média 2.500 contêineres na janela de importação americana, até outubro. A tarifa traz insegurança total e generalizada. É inviável, vamos tomar prejuízo", argumentou Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, que esteve na reunião em Brasília. "Dependendo dos desdobramentos, os embarques serão suspensos."
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