Nova versão da Coca-Cola com açúcar de cana imposta por Trump é mais saudável?

Nova versão da Coca-Cola com açúcar de cana imposta por Trump é mais saudável?
Foto: reprodução

Por redação com AFP


Com uma postagem do presidente Donald Trump na Truth Social, o xarope de milho rico em frutose virou o ingrediente mais comentado do verão nos Estados Unidos.


Na semana passada, o presidente surpreendeu até mesmo executivos da Coca-Cola ao anunciar que a marca passaria a usar açúcar de cana. “Vocês vão ver”, escreveu ele. “É simplesmente melhor!” Atualmente, quase toda a Coca-Cola vendida nos EUA é adoçada com xarope de milho rico em frutose.


A declaração gerou um frenesi na mídia, com boatos de que a Coca-Cola estava substituindo o adoçante. Em teleconferência de resultados realizada na terça-feira, a empresa confirmou que lançará uma versão da Coca-Cola com açúcar de cana no país durante o outono. No entanto, a nova fórmula será complementar ao portfólio atual e não substituirá os produtos feitos com xarope de milho.


Eliminar o ingrediente do sistema alimentar americano é uma prioridade da Comissão Make America Healthy Again, criada após Robert F. Kennedy Jr. assumir o cargo de secretário de Saúde e Serviços Humanos. O primeiro relatório público do grupo, divulgado em maio, destacou o xarope como um possível vilão na obesidade infantil e em doenças crônicas.


A história do adoçante começa com uma enzima capaz de converter amido de milho em glicose, o tradicional xarope de milho. Para obter o xarope de milho rico em frutose, outras enzimas são adicionadas para transformar parte dessa glicose em frutose, um açúcar simples presente naturalmente em frutas como maçã, melancia e cereja.


Desenvolvido por cientistas japoneses nos anos 1960, o processo foi aperfeiçoado e comercializado por pesquisadores nos Estados Unidos. A indústria alimentícia adotou o ingrediente em larga escala a partir dos anos 1970, quando ele passou a ser usado em produtos como cereais, sorvetes, pães e refrigerantes.


Em seu auge, cerca de 10% das plantações de milho dos EUA eram destinadas à produção do xarope. Esse número começou a cair nos anos 2000, conforme consumidores se tornaram mais atentos à saúde. Atualmente, o ingrediente representa cerca de 6% da safra, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.


É pior que o açúcar?


Estudos mostram que os impactos do xarope de milho rico em frutose são semelhantes aos do açúcar comum, segundo a Associação Médica Americana e a FDA. Ainda assim, algumas pesquisas apontam que o xarope pode causar inflamação e outros efeitos colaterais.


A frutose, tanto a presente no açúcar de mesa quanto no xarope, é processada pelo fígado e transformada em triglicerídeos, gordura associada a doenças cardíacas e hepáticas.


Questões ambientais


O milho domina as plantações americanas, cultivado com sementes geneticamente modificadas e altamente tolerante a herbicidas. Isso levanta preocupações ambientais, já que alguns produtos químicos usados na lavoura estão associados a riscos de câncer e à contaminação de áreas vizinhas.


Por que tanta gente evita o xarope?


Nutricionistas apontam que o principal problema é o excesso de calorias. O baixo custo do xarope ajudou a impulsionar a produção de alimentos ultraprocessados, acessíveis e altamente calóricos, protagonistas da crise de obesidade nos EUA.


Pesquisas indicam que os americanos consomem quase 20 colheres de chá de açúcar por dia, sendo 40% desse total provenientes do xarope de milho. A recomendação oficial é de, no máximo, 12 colheres diárias.


“O que importa é o excesso de calorias que o açúcar adiciona”, afirma Marion Nestle, professora emérita da Universidade de Nova York. “Mas ninguém fala sobre calorias.”


Por que as indústrias trocaram o açúcar pelo xarope?


A principal razão foi o custo. Na década de 1970, os preços do açúcar estavam em alta, enquanto o milho passou a ser fortemente subsidiado pelo governo. A política agrícola incentivou a produção excessiva de milho, e o xarope surgiu como uma solução eficiente e barata. Mais estável que o açúcar, ele não estava sujeito a tarifas e crises internacionais.


E a Coca-Cola nisso tudo?


Lançada em Atlanta em 1886 como um tônico, a Coca-Cola passou por várias reformulações ao longo das décadas. Em 1985, toda a produção nos EUA passou a utilizar xarope de milho rico em frutose. Já a fórmula com açúcar de cana continuou em países como México e em versões sazonais kosher nos EUA.


A empresa vai trocar de vez o adoçante?


Pouco provável. A substituição afetaria desde a cadeia agrícola até os engarrafadores e restaurantes. O açúcar refinado custa atualmente cerca de US$ 1,01 por libra, enquanto o xarope custa apenas US$ 0,35.


A cana-de-açúcar, por sua vez, é cultivada em poucos estados. Para cobrir a demanda, a empresa teria que recorrer à importação ou ao açúcar de beterraba, produzido localmente, mas com sementes transgênicas.


E o sabor?


Alguns consumidores e até executivos da empresa afirmam que a versão com açúcar de cana tem um sabor mais limpo. A Coca-Cola mexicana, engarrafada com açúcar e vendida em vidro, é popular nos EUA desde os anos 1990. Agora, a nova versão americana deve dividir espaço com ela nas prateleiras.