Da Covid à Operação Estágio IV: as contas que Alexandre Ayres nunca explicou
18/12/2025 22:20:12
Por Redação
A deflagração da Operação Estágio IV, da Polícia Federal, na Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), longe de representar uma “redenção” para Alexandre Ayres, recoloca sob os holofotes um período marcado por denúncias graves, respostas insuficientes e um histórico que jamais foi plenamente esclarecido. Tratar o atual deputado estadual como alguém que “saiu ileso” ou que agora poderia “cantar vitória” é, no mínimo, ignorar fatos incômodos que seguem sem respostas convincentes.
Durante a pandemia da Covid-19, quando Ayres comandava a Sesau, Alagoas viveu um dos momentos mais críticos de sua história recente. Houve cobranças públicas na Assembleia Legislativa por um calote superior a R$ 6 milhões na compra de respiradores que nunca chegaram, falta de medicamentos essenciais, denúncias de desorganização na rede hospitalar e números alarmantes de mortes de pacientes intubados. Naquele contexto, o discurso oficial sempre foi o da blindagem política, da relativização dos dados e da transferência de responsabilidades — ao Consórcio Nordeste, aos municípios ou a “problemas nacionais”.
O comparecimento de Ayres à Comissão de Saúde da ALE, em 2021, expôs justamente isso: muitas explicações, poucos esclarecimentos objetivos. Parlamentares de oposição e até aliados independentes apontaram inconsistências nos dados apresentados, crescimento expressivo de mortes por causas não identificadas e um modelo de gestão pouco transparente. Ainda assim, nenhuma consequência administrativa ou judicial recaiu sobre o então secretário naquele momento.
Agora, com a Polícia Federal investigando um suposto esquema de desvio de cerca de R$ 100 milhões na área da saúde, com apreensão de dinheiro em espécie, joias e afastamento do atual secretário, o passado recente não pode ser tratado como página virada. Ainda que Alexandre Ayres não figure formalmente entre os alvos da operação, o fato de ter comandado a pasta em um período de gastos bilionários, contratos emergenciais e fiscalização reduzida impõe, no mínimo, responsabilidade política e moral.
A tentativa de apresentar a operação como uma espécie de “prova” de que Ayres estaria isento de qualquer crítica ignora que investigações criminais não são instrumentos de absolvição retroativa. A ausência de indiciamento não apaga os questionamentos feitos à época, nem resolve os episódios mal explicados envolvendo respiradores fantasmas, mortalidade elevada em UTIs e uma gestão que sempre reagiu de forma defensiva às cobranças públicas.
A Operação Estágio IV não reescreve a história. Pelo contrário, ela reforça a necessidade de revisitar decisões, contratos e escolhas feitas ao longo dos últimos anos na Sesau. Em vez de cantar vitória, o momento exige cautela, memória e responsabilidade. Porque, na saúde pública, especialmente em meio a uma pandemia, erros não desaparecem com o tempo — eles deixam marcas, números e vidas que não voltam.
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