Ré em caso de racismo em AL disse em tribunal que não contrataria advogado negro "por usar dreads"

Ré em caso de racismo em AL disse em tribunal que não contrataria advogado negro "por usar dreads"
Foto: Reprodução

Por Vinícius Rocha/Francês News


Em maio deste ano, a jovem Gabriela Barros, de 21 anos, expôs em suas redes sociais um caso de racismo que rapidamente viralizou em Alagoas. Seu vídeo relatava a demissão sofrida por ela por usar tranças, na empresa de seguros em que trabalhava, localizada no Centro de Maceió. Em audiência em 4 de novembro deste ano, o juiz Emanuel Holanda Almeida, em decisão na 9ª Vara do Trabalho de Maceió condenou a proprietária da empresa ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil, reconhecendo a ocorrência de discriminação indireta por motivo racial


Durante o julgamento um fato chamou a atenção: a acusada confirmou que as políticas de contratação de sua empresa tinham critérios raciais. A postura, registrada em plenário, foi usada pelos advogados da vítima como estratégia para evidenciar o caráter institucional do racismo praticado pela empresária. 

O advogado Pedro Gomes, membro do Núcleo de Advocacia Racial do Instituto do Negro de Alagoas (INEG/AL), que representa Gabriela, relatou que a própria ré confirmou, sob questionamento, que não contrataria uma pessoa com dreads, como ele.


“Dentro da audiência, a ré não queria entender que o que ela fez com a Gabriela era racismo. Ela achava que estava no direito e estava muito segura nessa questão, achando que estava correta. Aí, pra mostrar para o julgador, perguntei: 'com o cabelo que eu tenho, os dreads, com as habilidades que você sabe que eu tenho, do jeito que eu sou hoje, você me contrataria?' Ela disse: ‘olha, eu... faria uma entrevista, mas você teria que se adequar, aos nomes da empresa".


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Segundo o advogado, ficou entendido que mesmo que a ré gostasse do profissional e de suas habilidades, ela não o contrataria por conta de um corte de cabelo afro. Pedro explicou que o episódio comprovou a existência de uma política discriminatória dentro da empresa da ré: “Foi uma das coisas que demonstrou que a política que ela implementou na empresa dela era uma política racista".


O advogado reforçou que a empresária não recuou nem tentou se retratar durante o julgamento, mantendo o discurso discriminatório: “Ela reafirmou em audiência que faz parte de uma estratégia, de uma norma da empresa, e que não mudou de opinião".  Apesar da gravidade da fala, o advogado destacou que o caso ainda está em andamento e que a defesa pretende recorrer do valor da indenização. 


O que aconteceu?


O caso de Gabriela Barros, de 21 anos, ocorreu em março de 2025, quando a universitária trabalhava havia alguns meses em uma empresa de consórcios em Maceió. A jovem, que é estudante de publicidade e ativista do movimento negro, denunciou ter sido demitida após colocar tranças no cabelo, o que classificou como um ato de racismo.


Segundo Gabriela, a ex-chefe afirmou que o penteado “não era o perfil da empresa” e chegou a compará-la a uma colega branca, dizendo que ela só poderia continuar no emprego se retirasse as tranças. A jovem se recusou e acabou desligada.


O caso ganhou repercussão em maio, depois que Gabriela publicou um vídeo nas redes sociais relatando a situação. A denúncia levou à abertura de um processo na Justiça do Trabalho e a um boletim de ocorrência na Polícia Civil.

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