Estudo revela contaminação por mercúrio em pescadores e marisqueiras da Lagoa Mundaú, em Maceió
04/06/2025 05:11:08
Por redação
Moradores de comunidades ribeirinhas da Lagoa Mundaú, em Maceió, que dependem da pesca e da coleta de mariscos para sobreviver, enfrentam uma grave ameaça à saúde: a contaminação por mercúrio. Um estudo recente, apoiado pela Fapesp e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), revelou níveis elevados do metal no sangue e na urina de pescadores e marisqueiras da região.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e os resultados foram publicados no periódico científico Journal of Hazardous Materials. O levantamento, que avaliou 125 pessoas, apontou que moradores que consomem frequentemente peixes e sururu apresentaram até quatro vezes mais mercúrio no sangue e 2,5 vezes mais na urina em comparação com um grupo-controle.
Em um dos casos, foi detectada uma concentração de 19 microgramas por litro de sangue — próxima ao limite permitido pela legislação brasileira (20 microgramas) e muito acima do nível considerado seguro pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que é de 6 microgramas para consumidores habituais de peixe.
Apesar da gravidade dos dados, os pesquisadores afirmam que o consumo de peixes e sururu da lagoa continua seguro. Segundo Josué Carinhanha Caldas Santos, professor da Ufal e coordenador do estudo, os altos níveis de mercúrio não foram encontrados nos alimentos ou na água, mas sim nos moradores, possivelmente em razão da exposição prolongada ao ambiente contaminado. “Eles trabalham há anos na região, acumulando mercúrio no organismo”, explicou.
Além da presença do metal, a equipe identificou alterações metabólicas relevantes, como mudanças na estrutura das hemácias, elevação nos níveis de triglicérides, creatinina e ureia — marcadores que indicam risco para doenças cardiovasculares e renais. “Essas alterações comprometem o transporte de oxigênio no corpo e podem afetar o funcionamento celular de forma generalizada”, afirmou Ana Catarina Rezende Leite, também professora da Ufal e coordenadora do estudo.
A contaminação está associada ao despejo de efluentes domésticos e industriais na lagoa, vindos de Maceió e cidades vizinhas. Pesquisas anteriores com animais já haviam demonstrado que até doses moderadas de mercúrio inorgânico podem causar danos severos ao cérebro, fígado e sistema circulatório.
Os pesquisadores alertam para a necessidade de acompanhamento contínuo das populações expostas e de ações emergenciais para mitigar os efeitos da contaminação. “Precisamos compreender os impactos da exposição crônica e adotar medidas de saúde pública para proteger essas comunidades”, reforçou Josué Carinhanha.
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